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Vida de oração: curtindo a companhia do Pai!

19 abril 2017

“Tudo que é meu é teu” (Lc 15,31). Essa é a frase que o pai diz ao irmão do filho pródigo. Esse pai misericordioso, sabemos, é como Jesus descreve a Deus, o verdadeiro Pai misericordioso. Temos um Pai que se derrama de amor por nós o tempo todo, que dá tudo de si, que se doa e se entrega por cada um de nós ininterruptamente, eternamente e totalmente. O amor de Deus é total, fiel, livre e fecundo. O filho mais velho não compreendia isso. Ele estava sempre com o pai (Lc 15,31), não foi embora, não o abandonou, mas seu coração ficou ressentido de o outro filho ganhar mais do que ele. Ele queria recompensa por ficar com o pai. Na verdade, o coração dele se igualava um pouco ao coração do irmão que foi embora.

O irmão voltou porque queria a comida boa que havia na casa do Pai. O que ficou queria ter direito a um novilho para fazer festa com os amigos. Os dois enxergavam mais os bens do pai do que o próprio pai. O filho que voltou em nenhum momento disse: “ai, que saudade do meu pai, do sorriso do meu pai, da palavra do meu pai, do beijo do meu pai”; mas sentiu falta dos bens do pai. Quando se sentiu em apuros correu para a casa do pai. Já o filho que ficou não entendia que o próprio fato de ficar com o pai já deveria enchê-lo de felicidade. Ele desfrutava da presença do pai, da companhia do pai, ele podia conversar com o pai, contar piadas para o pai, cantar com o pai, trabalhar com o pai, ele tinha o pai por inteiro. Para ele, o relacionamento com o pai estava apenas em não transgredir as ordens dele, para ser merecedor da herança. Mas quando o pai diz “Tudo que é meu é teu”, ele está dizendo: até eu mesmo.

Mas o mais bonito é que não importa o porquê da presença do filho na casa do pai: o pai se enche de alegria do mesmo jeito. E o mais lindo é que ele demonstra essa alegria. O pai nunca é indiferente ao filho. Se o filho voltou porque precisava ou se ficou porque queria a herança, o pai exulta de alegria na presença do filho! E beija, e põe um anel, e enche de honras e de dignidade, e explica, e ensina, e se declara: eu sou teu.

Assim somos nós na oração. Quando o Pai nos vê a caminho de estar na sua presença, ele se enche de alegria e corre ao nosso encontro. E na sua liberdade infinita de Deus, ele escolhe dar-se totalmente a nós, e não importa as nossas infidelidades, Deus é sempre fiel a si mesmo: Ele é amor e a natureza do amor é dar-se sem medidas. E esse seu amor gera vida. Sempre. E Deus é feliz assim. Ele é muito feliz. E quer que sejamos felizes também. Por isso nos convida sempre a esse relacionamento com ele, a darmos essa mesma resposta a ele, de termos para com ele, um amor livre, total, fiel e percebermos a fecundidade desse amor em nós, quando ele gera em nós vida em abundância e amor pelos irmãos. A oração dá sentido à cruz, à penitência e nos abre à verdadeira vivência do amor.

A perfeição desse relacionamento com Deus está em buscar o Pai por Ele mesmo, para recebermos o maior bem que Ele pode nos dar, que é Ele mesmo, o Seu amor. A herança é o próprio pai, é o próprio Deus. E a vida de oração nos prepara para receber essa herança, porque nós já vamos recebendo-a aos pouquinhos, a cada visita, a cada minuto que gastamos na presença dEle (e só dEle). Os outros bens que o Pai pode nos dar são os acréscimos. E como Ele sabe ser generoso com os acréscimos! Quando colocamos as nossas dificuldades, prisões, amores, paixões, alegrias, projetos, desejos, anseios, angústias, preocupações, medos e vamos entregando tudo o que faz parte da nossa vida, do nosso cotidiano nas mãos do Pai, estamos confiando que Ele vê todas as coisas antes, que Ele sabe de tudo e sabe de nós mais do que nós mesmos sabemos. Por isso, mais do que nós, Ele sabe do que precisamos, o que é melhor, o que nos falta e o que pode nos sobrar. E é isso que Ele nos pede muitas vezes: confiem em Mim, porque “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13).

Temos esse convite para nos esforçarmos (sim, esforço!) em retirar um tempo do nosso dia agitado, a renunciarmos a um pouco do nosso tempo de lazer ou de descanso, a organizarmos o nosso tempo, de maneira que a prioridade do nosso dia seja esse encontro marcado com o Senhor, na oração diária. Pode ser no terço, no louvor, na novena, na meditação da palavra, na oração espontânea, em línguas… A Igreja e o Espírito Santo nos apresentam tantas formas de rezar, mas não nos esqueçamos também da conversa amiga com Deus, em que transformamos a nossa vida, o nosso ser, sentimentos, fatos e medos em oração. Abramo-nos ao rasgar sincero do coração.

Um amigo meu, no início de namoro, retirava um tempo todas as noites para visitar a namorada, e passava esse tempo assistindo novela com ela e com a sogra. Certa vez nos confessou que às vezes era chato esse programa. Mas ele gostava dela, e embora o programa (a novela) não fosse tão interessante, a companhia era. Ele queria conhecê-la e amá-la cada vez e entendia que isso aconteceria no cuidado diário de estarem na presença um do outro. E assim, estão juntos até hoje, casaram-se e estão dispostos a um compromisso para a vida inteira, no dar-se um ao outro. No início da vida de oração, pode nos parecer difícil organizar o nosso tempo tão corrido ou cheio de distrações (em especial, as tecnológicas), pode nos parecer chato ficar muito tempo parado na capela ou em silêncio no quarto, mas precisamos tentar, dar o primeiro passo.

Se vivemos bem a quaresma, agora é hora de perseverar nesse propósito. É no resto do ano, que a vida de oração vai se firmar, e na quaresma que vem, já teremos outros desafios. Assim vamos crescendo. Mas se não vivemos bem essa quaresma, não precisamos esperar a próxima para começarmos! O convite de Deus é sempre hoje! É necessário dar passos no sentido de fortalecer o nosso relacionamento com Deus por meio da oração!

Às vezes, em especial quando estamos iniciando na vida de oração, ficamos sem palavras diante do Senhor, não temos o “jeito” de conversar com Ele. Mas intimidade acontece com o tempo, os assuntos vão surgindo, as afinidades, as palavras. Quanto mais conhecemos e nos sabemos conhecidos, e amamos, e compreendemos como somos incrivelmente amados, essa relação vai ficando mais fácil, prazerosa e fecunda. Até que cantaremos como o salmista: “Um dia em tua casa vale mais do que mil dias fora dela” (Sl 84, 10).

 

Susana Sousa
Coordenadora do Ministério Jovem no Distrito Federal